sábado, 5 de dezembro de 2009
O TROVÃO
TALVEZ SIMPLESMENTE SOE
COMO UM TERRÍVEL ESTRONDO,
OU BADALAR DE SINOS ELETRÔNICOS
COM TROMBETAS E ARPÕES.
TALVEZ CLARO O RAIO ECOE
ENTRE AS NUVENS CARREGADAS,
NUM RIBOMBO LUMINOSO
DE CORISCOS NA CHAPADA.
A TEMPESTADE ANUNCIA
COM FAÍSCAS A BATALHA,
QUE AGUARDADA SE TRAVA
NUM VERÃO TENEBROSO.
O CÉU TORNA UM SALÃO
ONDE TOCAM OS ANCESTRAIS
A PRIMITIVA MÚSICA
DOS ETERNOS SERES NATURAIS
QUE DANÇAM NA CHUVA O RITUAL
DE ACASALAR COM A ÁGUA
NUS, EM RAROS CAMPOS
CINZAS DE OUTUBRO OU VERDES DE ABRIL.
OS QUE NÃO DANÇAM, ESPANTAM-SE
COM MEDO DO CHÃO TRAIÇOEIRO,
E ESCONDEM OS PÉS NAS CHINELAS
DEPOIS DE TENTAREM REVER
OS VALORES PREGADOS
NA RAZÃO E NO TEMPO.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
PICTOGRAMAS
VIVER
REVIVER
RESPONDER
ÂNSIA
SÚBITA
POESIA
REMÉDIO & ESSÊNCIA
AMBROSIA
#
)( )(
TENEBROSA
TER & RETER
INFÃNCIA
OCULTA
DERRETER
DISTÂNCIA
CHUVA
MISTÉRIO & INTERIOR
SARAR
AZIA
TÉDIO
SONDAR
DOR
SONHAR
SONHADOR
...
DOAR
RODAR
CALAR & CALOR
ONDAS
COR
REVER
MOVER
SENTIR
IR
RIR
GIRAR
AGIR
RESSENTIR
REGIRAR
REAGIR
INTERAGIR
RESISTIR
EXISTIR
EXITAR
EXIT
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
O acaso do trajeto é o estratagema do caos
A Tragédia na aldeia, entre o Poeta adivinho e o Correio
Brincava o ser sapiens, em ondas enigmáticas,
nas grutas galerias, nas cavernas museus
e nos ossuários de porcelana,
desde a remota era da arqueologia,
gravando nas louças de pedras e marfins
os símbolos da caça masculina e da fertilidade feminina,
e com a rupestre caligrafia, fez-se, da confusa babel
a neoplastia revigorante das palavras.
Da cerâmica, à pele preparada com alúmenes.
Dos hieróglifos egípcios, aos pergaminhos antigos, enigmáticos
que de tanto labor da idéia, aprimoraram o caos,
do pó, até a época recente das redes de informática.
Antes sapiens, mas, esqueceram-se, que as letras
foram Bordadas com a energia vital das marés calmas,
e que o subtil espúmeo véu sonoro das praias,
anunciavam-lhes uma futura tempestade de sentidos.
E assim como, o despretensioso vento esculpiu lentamente
o invólucro calcário das conchas,
o ribombo do trovão trouxe o medo,
e o raio imprevisto, a verdade.
As montanhas pacientes, bem que poderiam agitar-se,
e acelerarem, depois de um primeiro passo
a marca da erosão das horas,
até que do tenro atrito restasse apenas areia fina.
Mas o que seria da incessante ventania dos campos,
sem o combate com a teimosia resignante das colinas.
o mesmo que o pulsar de ondas dos mares,
sem a corrosiva luta contra as rochas.
Assim, o rechaçado oceano azul ciano,
misturou-se ao amarelo expansivo do sol,
ao encarnado vermelho inebriante das papoilas
e fez gotejar o verde láudano sobre as águas salgadas.
desde então o mar nunca mais desembreagou-se
e fez da contínua refrega, canções
derramadas em tinta fresca esferográfica
com relampejos e imagens sublimadas num papel.
Lutava um náufrago no cais, com a garrafa vazia de vinho
exalando no mar a transbordante e doce palavra pirata,
com pitoresca poesia de areia e vidro, esculpidas pelo cinzel
com aroma de duna solitária, ou oásis desabitado.
A costumeira embriaguez engarrafada, velejando em náuseas,
com a sensação vocálica da atritada ardósia de fogo,
na eterna sincronia das águas dos mares e do vento,
correspondente às caravelas, movimentadas pela bússola do tempo.
Clepsidra surgiu em maremoto, com um abastado silêncio de ampulheta,
questionando-se por onde escorreriam as sílabas resvaladas,
e até onde ecoariam as consoantes grávidas,
sussurradas com o gravame da vida, em ouvidos de cortiça magnética.
O Marinheiro perdido trajava farda em amarelo e azul,
envolta dos intranquilos pés, botas de couro bege.
nas costas, uma mochila com cartas endereçadas,
e na cabeça, um chapéu, destes de pôr em bustos, ou de sinalizar.
Navegava satisfeito em sua bicicleta,
pois já se fora a época de madeira das caravelas,
E cortava as ruas como um peixe cartilaginoso,
adaptável a agonia de faca submarina.
as linhas laterais, tornavam-no exímio captor sensório
das vibrações alheias e dos campos elétricos.
Tinha para respirar brânquias narinas e guelras felinas
e fileiras de dentes para mastigar os números das casas.
Imprudente burlava o sossego dos muros
e feria com o dedo ligeiro, as campainhas,
como feria as cordas da cítara, o pombo viageiro,
de eriçadas plumas musicais e ramagens no bico.
Quando cansado de burlar, repousavas num aradado pomar,
bradando hinos aos canários e aos galos de campina,
comemorava saltando piruetas, piando, negro como o pássaro tiziu,
a dançar sua plumagem nupcial, como que cantando às fêmeas.
depois o arauto carteiro selvagem, invadia os lares
feito besouro zumbindo de súbito, presságios.
E proclamou os festins da sacerdotisa de Baco,
junto com as moscas entorpecidas, pelo tinto olor das uvas.
Ah! lendária Cleópatra, enfeitiçada por Dionísio,
prometera a Marco Antônio, auspiciosa,
que beberia o valor de uma província, numa taça de vinho.
E Bebera!junto do vinho no cristal ocre, uma valiosa pérola.
Após degustar, de tal talismã medicinal,
pôde também repousar resignada,
decúbita em vigília, abraçada por uma aragem fria,
e hipnotizada por heras seculares e videiras.
Mergulhou, nas profundezas encarnadas da vida,
que tardias revelaram, sua verdadeira idade nos milênios
pôde então filosofar pela última vez, antes de acalmar sua fadiga,
por alimentar as forças e o calor dos homens,
o vinho é sangue da terra e através dele enxergamos a verdade.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
TENAZ O TEMPO
Por mais que tenaz, e viscoso,
o tempo subtil, retroage...
e sedimenta suas arestas oblíquas
num fóssil estreito e vário,
moldado a custo
do vigor incansável da gravidade,
e de todo o caráter torpe
da ventania auspiciosa.
Que agita o solo rijo,
e lacera as ruas tortas da cidade
descomposta de natureza,
areia e
grãos.
é como um frenesi na velha montanha
que fustigada pelo vento,
arrepia a terra,
palpita o chão,
e faz brotar das pedras
suas relíquias vegetais.
Herdadas da uterina cripta ardente,
na febre terçã do solo.
onde interagem o cio e o ócio
com o desvario momentâneo e célere das estações.
Incitando o instante a quebrar o cotidiano.
Enquanto isso, o âmbar teimoso
aglutina e eterniza o que o cerca
em sua resina atemporal.
e a protege do tufão.
já o espectro da pétala lilás
protegida nas páginas de um livro,
amarelece mas não perde sua forma
côdea,
essência.
assim também é a ciência
envelhece mas subverte seus ramos
e recria sua vergôntea
do cuspe resignante.
sábado, 3 de outubro de 2009
TARDE MORTA
TODOS, VIVOS SUICÍDAS
Tarde morta, amarelo queimado
sob um sol distante, se disfarça o acinzentado.
Cérebros ofegantes, tédio, poluição
o céu não tem mais seu mistério
ou será o homem que perdeu a razão?
Há um quadro vivo em minha mente
o mundo dança mesmo moribundo
as árvores, tristes balanços, galhos histéricos.
Urubus sobrevoam cheiro de morte,
a carne fétida em putrefação.
ciclo da
vida
espiral
da
loucura
há muito não caminhamos
apenas somos guiados
que caminho seria um atalho?
qual destino não seria escarpado?
que instinto seria uma vontade?
qual desejo seria uma obrigação?
que vida seria liberdade?
Nos tornamos mais humanos
quando somos animais!
o que seria um rio no olhar de um peixe?
que seria no olhar de pescador?
que seria no olhar da sereia?
que seria no seu olhar?
seria
apenas
um rio?
seria
apenas
um olhar?
Não sei se choro ou mijo!
Não sei se olho ou rio!
sei que esse fluxo não cessa!
que todo líquido desagua!
e que a tarde sempre renasce!
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
LACRIMEJAR
COM SAL NOS OLHOS, E AS MÃOS MOLHADAS
As mãos que olham,
são as mesmas que ferem
os cílios
com os dedos,
e assanham as sobrancelhas,
e os cabelos molhados.
(descabelados)
Os olhos que apalpam,
são os mesmos que rasgam
as pálpebras
de molho,
e mapeiam as células,
e os poros pelos aros.
(púbis pêlos rasos)
A vista das celas,
acariciam
a epiderme selvagem
da carne crua.
O tato digital,
observa
a inocência obscena
da pele nua.
Transpondo a paisagem,
num farejar indócil,
revelando territórios
hostis,
camuflados.
Enxergando a margem
incólume fóssil,
num radar de sáurios,
com a sanha
inflamada.
Répteis rasteiros e torpes,
arranhando o ventre liso
no úmido solo.
Vasculhando nas vestes
a maciez das flores,
maliciosas.
Até cambalearem moles,
com a embriaguez das uvas
seviciadas.
Fundos,
os buracos oculares de silício,
vomitam imagens
em silêncio,
incrustadas no panorama
das negras lentes
do óculos.
Juntos,
na caverna orbital de Polifemo,
choram sais as rochas
aos gritos,
com abrupto ciúme erótico
da membrana rubra
da saia.
Os sentidos transitam,
nas lágrimas em pranto,
em coro,
na chuva.
Os sentimentos amargam,
no mar revolto,
em ondas,
na espuma;
Que o sal enxuga,
lambendo a ferida suja
de areia da praia.
sábado, 19 de setembro de 2009
ISTMO PERDIDO
Todo dia insisto, em sair do fosso frio
e cismo em pular fora do érebo abismo.
Arisco, incito o transe, atiço a troça
dos úmidos calabouços, mas no fundo, desisto.
Percebo a longínqua aurora que se desfaz no instante,
e a pestanejar persisto, na fugacidade das cores
perecidas, confundem-se virgens como riso infante
que vivaz desabrocha e murcha efêmero como as flores.
fatídico, o crepúsculo também se esvai no horizonte
como se a tarde sumisse, dentro de um ralo no céu.
e a noite abrisse um rasgo nas catacumbas da fronte,
a ferida noturna empunhalada com um cinzel.
quem sabe a vida é a fuga do atlas, ou a busca de um istmo
perdido entre a rota e o último paradeiro,
que oscila entre o cinza e a luz, revelando seu ritmo.
quem sabe inevitável, seja apenas a morte e o segredo
e que muito se evita de viver a vida verdadeira
esquecida entre o ciclo das eras e a época primeira.
(Théodor Bezellius)
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
EQUILIBRIUM
EQUILIBRIUM
EquiLÌBRIOS HarmoniOSO
Que LOMbrem
BRilhos De VaPOR
deLÌRIOS
AurORAS boreAIS
Borrões de LUZ
EstuPOR verbOSO
PaLAVRAS MaNANCIais.
PersCRUTEM,
"my FAVORite tHinGs"
JohN colTRANE.
As VOZes GEMIdas
Das rOUCAS GARças
bicUDAS e de SonORO goGÓ
O sOM de VestIDO
erIÇADO PELO VeNTo
O VERmeLHO a flaMULAr
Na PAUSa do
semÁFORO MuDo
pensaMENTOS
PASmo
reFAÇO mEU MUnDO
AlUMBRAmentos
mANDO um teléGRAFO
COPÉRnico
em
brASAS
DANÇAntes ChAMAS
MIRAgeNs nO cALoR...
“Lorem ipsum vim ut utroque mandamus intellegebat, ut eam omittam ancillae sadipscing, per et eius soluta veritus.”
(Théodor Bezellius)
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Cigana Crepuscular
(a Diandra Rodrigues)
Moça, de faces e maçãs
Mulher, de carnes e quadris
quando sorri, os dentes gentis de criança
mastigam as manhãs.
Sempre de tarde, cigana Crepuscular,
procura o anunciar do brilho da estrela,
vagando vermelha com trança nos cabelos.
Irradia o céu com as cores da beleza,
invade as nuvens, balança os ventos.
De noite, ás vezes atriz, arrisca um gesto,
palpita a pele, se enfeita, cobre-se de vestido.
Namora o espelho e se pinta, como pode uma índia,
e desfila, a cantar para a lua as canções mais belas.
Amanhece embrulhada num lençol de suspiros,
a pintar em telas o dia de menina agreste.
Alvorece macia, acalentada em sonho idílico,
dependurada no cipó do cipreste.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Ao rio, ágata
De todo rio, gota se faz,
olhos d´água eternos lacrimais
submersos no topo da colina,
atrás das pedras que pingam
e escorregam cegas nas pernas da terra.
A penetrar um caminho perpétuo
em tuas entranhas, de mato mítico e relevo,
amaciadamente acidentado pelo tempo.
O círculo do fogo e do gelo,
que arde e doura cíclico
um novo sol a cada dia refeito.
Fabricam-se as sombras, as cinzas da noite,
do grito dos gêiseres e do suor de icebergs,
o claro tranquilo a dissolver o escuro bramido labor,
eterno acasalar de deuses coloridos
encharcados de olor de chuva.
Que regam o ciclo e rogam o cio
lua a sol,
ágata ao trigo.
domingo, 6 de setembro de 2009
Faringe ventilador cerebral de palavras
Os transeuntes bêbados, com os cabelos eriçados e acesos,
calcinando suas pegadas na terra mágica,
de onde brotam escadas,
esgotos,
ágata e
magma.
O lento fluir das plantas, com seus mantos de folhas,
alimentando-se de luz. Os caules estelares e sinuosos
subindo aos céus, e as sombrias raízes a migrarem cegas
rumo ao solo vertiginoso,
simbiose,
fotossíntese e
flores.
O ar viscoso sobre a pele, suplicando carícias,
feito um Zéfiro a choacoalhar ervas ao vento,
levando o cheiro do verde às ventas airosas,
onde entranha aspiras camuflada paisagem.
Balance a rede
na cordilheira,
e escute
o zinir dos grilos.
O ritmo da silábica seiva
ligando o motor verbal da faringe
no ventilador cerebral de palavras.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Correspondências ao acaso
que num raro orbe abismal sustente, a leveza das órbitas e a paz dos quintais.
Pasmo com a atmosfera, indago-me sobre a sintonia lógica da natureza:
Que magia matemática harmoniza as estrelas?
Que energias combinam-se a luz veloz e aflita, que transcende o espaço e eterniza a matéria?
Como que pudesse sentir na brisa inaudita, a música cósmica que obscurece-se nas horas.
Poderei supor a exaustão dos cometas ou a morbidez da seiva,
indagar sobre a sílaba, quem sabe, a eloquência dos pássaros, ou os silvos dos lábios.
Sei que permanecemos salvos pelo silêncio inalterável, mas abalados,
com o ruído estrondoso da alma, e as correntes possibilidades,
ilustradas como miragens, ou presságios, que habitam as cabanas vazias, e os mares calmos.
Os arcabouços antigos, e os baús com o cheiro velho da umidade do tempo, padecem,
bem como as gavetas, e as cavernas frias do passado, e o tempo permanece inquebrável,
como um fio insustentável e tênue, com a eufórica agitação de sempre!
Theodor bezellius
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Le Fleur je confine
agora clama, dada quando não pedida.
A pétala abandonada, murcha, insípida,
exala um ébrio néctar, banhado na secura.
Cálida lótus umectante, envolvida em afagos taciturnos,
arde perdida em chamas, no fogo da aquática ilha,
flutua em paisagens áridas, procurando totens ou plumas,
rastejante inundada na areia, a herbívora víbora diurna.
Na noite fugaz consome os sonhos com suspiros,
e se alimenta da voz ferida, atritada no lençol,
alongando a maciez da melancolia com ásperos olhos,
desgarrando pólen pelos lábios, na inevitável aurora.
A manhã próspera precipita prematura,
num subtil desabrochar antes pulsante,
apenas enrosca a luz contra a cortina,
e deslinda a vida dum calmo clausuro.
CALME CONFINE
"Le fleur récoltée dans l'original fraîcheur,
maintenant il clame, livré quand non appel,
lê pétale abandonnée, il défraîchit mate
il exhale un ivrogne nectar baigné dans la sécheresse.
Cálida lótus humidifiée dans des afagos taciturnos,
il brûle perdue dans dês flammes de l'aquatique île,
il flotte dans des paysages arides, en cherchant totens, ou enclos.
Piège inondée dans le sable,la herbívora vipère diurne.
La nuit fugaz consomme les rêves avec des soupirs,
et s'il nourrit de la voix, des blessés attrition dans le drap
en allongeant maciez de la mélancolie, avec de rugueux yeux
en égarant pólens par les lèvres, dans l'inévitable aube.
Le matin prospère il précipite precoce,
un subtile déboutonner avant pulsante,
seulement enrosca la lumière contre tapisse
et il définit la vie d'un calme confine."
(Théodor Bezellius)
terça-feira, 4 de agosto de 2009
Lumen Naturale
FLAMMA PHRÉNESIS
Os crânios ainda que selados, lumen escuros,
por detrás dos claustros olhos, há mais janelas,
que arrancam os batentes e amansam os muros
da engenhosa alma arquitetada em celas.
Na caixa toráxica flui um pedaço do céu e
os telhados roubam-me um filete do fôlego,
na porta, pasmo coração bate, arrítmico tropel,
nos ácidos pés, balões de sangue trôpego.
A delícia na fome é a tormenta das entranhas,
consumir inexpimível sabor de brisa, na ânsia
do frêmito da vida, um frenesi em salivar.
As reais prisões residem na instância da consciência!
mesmo parados podemos sentir o inefável,
ainda que livres em labirintos de faunos.
Será a arte vício de pensar, ou ofício de fazer?
(Théodor bezellius)
quinta-feira, 9 de julho de 2009
ALAN POE
UM SONHO NUM SONHO
Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.
Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?
(Edgar Alan Poe)
ballet aos pardais
FACE DOS SONHOS
Ousei esquivar-me de sua tez
e de seu semblante vivo,
mesmo pálida
Alvorece
a tugir ocultas vozes
a boca veraz
umedece
e galante engole suspiros,
devolve sons em palavras doces
na língua envolta de néctar e guizos.
Seus vítreos olhos derramam
gotas de luz colorida
que pingam dos cílios
o bálsamo,
e orna irisada
fronte fulgurante
em límpido traço
de sinuosa náiade lacrimal
a berrar em ballet aos pardais,
Edith Piaf!
Seu riso largo,
de lábios e narinas afloradas
a sorrir bastarda
da ninfa Liríope,
deslizando em águas
num sonho
a desvelar
delírios de Nenúfares,
banha-se em luas de mercúrio
lava-se aos pés de centauro.
Suave deleite
em ondas
a galope de cavalo marinho.
terça-feira, 30 de junho de 2009
vestígios da imagem
Descubro um vaguear táctil no veludo do muro,
a memória, um rastro dos restos de vida,
um visgo que aviva o velho musgo,
verde lembrança, que desmorona em ânsia contida.
Dissolvo a parede como que coleia o caracol,
rastejante vulto, vago em relevo,
a lesma e suas idéias na concha em espiral,
contornando a leguminosa paisagem, com sebo.
Na quina, o tegume rósea do azulejo
cintilando na vespertina hora, exata,
em que o vidro prisma a luz com gracejo.
Rútila imagem tapume irisada,
a gramínea perdida na matiz do pensamento,
onde a revivescente aurora dormes embriagada.
sábado, 27 de junho de 2009
cúmulos nimbos
DA TRAGÉDIA E DOS DESTROÇOS
Cúmulos nimbos no assoalho do céu
sugando aviões da rota Rio-Paris,
tumultuando o atlântico à deriva no cais,
mais acumulos de destroços na caixa preta de papel.
Gigante peixe de aço perfurando nuvens,
esquivando-se dos não identificados feixes de luz.
Será dobrar o espaço encurtar o trajeto, dos
que cambaleiam perscrutando o desperdício na paisagem?
Místico supersticioso, tonto de acasos e números,
combinando análises entre pedras e búzios.
Músicas do atrito no vento das chamas de Ícaro
num abismo quase queda, perdidas plumas plúmbeas.
em vão os caçadores de OVNIs e fantasmas
com suas inúteis provas de mero feitiço,
querendo esclarecer a tragédia nos destroços
catando cacos nos cantos que antes não eram vistos.
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Amar(é)rado
Amarraste o laço da vida entre os dedos
como quem pendura o arado na rosa,
e fez arder-te a lâmina em segredo,
e afiar a noite amaciando as horas.
Como quem cavaste os céus na terra,
penetras secreta em locas de rio
a perder-se trêmula na esfera,
onde bem vegetas, no cio.
Os seios, de vez goiabas.
Aréolas, talvez amoras.
Será que o sumo do fruto existe?
As unhas azuis arranhando as vestes.
Os beiços bordando arabescos.
Será carmin a cor das bordas?
Os dedos veludos, novelos.
Nas mãos, maçãs tocando violinos.
Serão luvas na pele mordiscando a carne?
segunda-feira, 15 de junho de 2009
quarta-feira, 10 de junho de 2009
às vísceras de Lacan.
Vísceras, escorram em vós o suor ou a seiva,
Formas, que nascidas sejam da forja ou do sangue,
vossa torrente não é mais densa que meu sonho;
E, se não os oprimo com um desejo incessante,
atravesso vossa água, desabo na areia,
onde me atrai o peso do meu demônio pensante.
Só, ele toca o duro chão onde o ser se eleva,
ao mal cego e surdo, ao deus privado de sentido.
Mas, assim que perece todo verbo na minha garganta,
Vísceras, que nascidas sejam do sangue ou da forja,
Natureza, eu me perco no fluxo de um elemento:
Este que aninha em mim, o mesmo vos subleva,
Formas, que escorram em vós o suor ou a seiva,
é o fogo que me faz vosso imortal amante.
em fim! mergulho nos pergaminhos digitais!
Que o lodo da marmórea palavra borrifes
nos vasos e nas rosas quimeras
das janelas de junho, entre abertas.
E derrubem os muros e os tapumes da fala!
os trajes e o escamoteio das vestes!
Pois, erguerei em suspenso profanos versos,
dissipados no ar feito raspas
das idéias de madeira
talhadas pelo escultor.
Telmo Belizário Galvão, saúdo os polvos na roda gigante!