segunda-feira, 21 de setembro de 2009

LACRIMEJAR


COM SAL NOS OLHOS, E AS MÃOS MOLHADAS


As mãos que olham,

são as mesmas que ferem

os cílios

com os dedos,

e assanham as sobrancelhas,

e os cabelos molhados.

(descabelados)


Os olhos que apalpam,

são os mesmos que rasgam

as pálpebras

de molho,

e mapeiam as células,

e os poros pelos aros.

(púbis pêlos rasos)


A vista das celas,

acariciam

a epiderme selvagem

da carne crua.


O tato digital,

observa

a inocência obscena

da pele nua.


Transpondo a paisagem,

num farejar indócil,

revelando territórios

hostis,

camuflados.


Enxergando a margem

incólume fóssil,

num radar de sáurios,

com a sanha

inflamada.


Répteis rasteiros e torpes,

arranhando o ventre liso

no úmido solo.


Vasculhando nas vestes

a maciez das flores,

maliciosas.


Até cambalearem moles,

com a embriaguez das uvas

seviciadas.


Fundos,

os buracos oculares de silício,

vomitam imagens

em silêncio,

incrustadas no panorama

das negras lentes

do óculos.


Juntos,

na caverna orbital de Polifemo,

choram sais as rochas

aos gritos,

com abrupto ciúme erótico

da membrana rubra

da saia.


Os sentidos transitam,

nas lágrimas em pranto,

em coro,

na chuva.


Os sentimentos amargam,

no mar revolto,

em ondas,

na espuma;


Que o sal enxuga,

lambendo a ferida suja

de areia da praia.

sábado, 19 de setembro de 2009

ISTMO PERDIDO


Todo dia insisto, em sair do fosso frio
e cismo em pular fora do érebo abismo.
Arisco, incito o transe, atiço a troça
dos úmidos calabouços, mas no fundo, desisto.

Percebo a longínqua aurora que se desfaz no instante,
e a pestanejar persisto, na fugacidade das cores
perecidas, confundem-se virgens como riso infante
que vivaz desabrocha e murcha efêmero como as flores.

fatídico, o crepúsculo também se esvai no horizonte
como se a tarde sumisse, dentro de um ralo no céu.
e a noite abrisse um rasgo nas catacumbas da fronte,
a ferida noturna empunhalada com um cinzel.

quem sabe a vida é a fuga do atlas, ou a busca de um istmo
perdido entre a rota e o último paradeiro,
que oscila entre o cinza e a luz, revelando seu ritmo.

quem sabe inevitável, seja apenas a morte e o segredo
e que muito se evita de viver a vida verdadeira
esquecida entre o ciclo das eras e a época primeira.

(Théodor Bezellius)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

EQUILIBRIUM

O quartier - Pieter Bruegel

EQUILIBRIUM


EquiLÌBRIOS HarmoniOSO
Que LOMbrem
BRilhos De VaPOR

deLÌRIOS
AurORAS boreAIS
Borrões de LUZ

EstuPOR verbOSO
PaLAVRAS MaNANCIais.

PersCRUTEM,
"my FAVORite tHinGs"
JohN colTRANE.

As VOZes GEMIdas
Das rOUCAS GARças
bicUDAS e de SonORO goGÓ

O sOM de VestIDO
erIÇADO PELO VeNTo
O VERmeLHO a flaMULAr

Na PAUSa do
semÁFORO MuDo
pensaMENTOS

PASmo
reFAÇO mEU MUnDO
AlUMBRAmentos

mANDO um teléGRAFO
COPÉRnico
em
brASAS
DANÇAntes ChAMAS
MIRAgeNs nO cALoR...

“Lorem ipsum vim ut utroque mandamus intellegebat, ut eam omittam ancillae sadipscing, per et eius soluta veritus.”

(Théodor Bezellius)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Cigana Crepuscular


(a Diandra Rodrigues)

Moça, de faces e maçãs
Mulher, de carnes e quadris
quando sorri, os dentes gentis de criança
mastigam as manhãs.

Sempre de tarde, cigana Crepuscular,
procura o anunciar do brilho da estrela,
vagando vermelha com trança nos cabelos.
Irradia o céu com as cores da beleza,
invade as nuvens, balança os ventos.

De noite, ás vezes atriz, arrisca um gesto,
palpita a pele, se enfeita, cobre-se de vestido.
Namora o espelho e se pinta, como pode uma índia,
e desfila, a cantar para a lua as canções mais belas.

Amanhece embrulhada num lençol de suspiros,
a pintar em telas o dia de menina agreste.
Alvorece macia, acalentada em sonho idílico,
dependurada no cipó do cipreste.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ao rio, ágata


De todo rio, gota se faz,
olhos d´água eternos lacrimais
submersos no topo da colina,
atrás das pedras que pingam
e escorregam cegas nas pernas da terra.

A penetrar um caminho perpétuo
em tuas entranhas, de mato mítico e relevo,
amaciadamente acidentado pelo tempo.
O círculo do fogo e do gelo,
que arde e doura cíclico
um novo sol a cada dia refeito.

Fabricam-se as sombras, as cinzas da noite,
do grito dos gêiseres e do suor de icebergs,
o claro tranquilo a dissolver o escuro bramido labor,
eterno acasalar de deuses coloridos
encharcados de olor de chuva.

Que regam o ciclo e rogam o cio
lua a sol,
ágata ao trigo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Faringe ventilador cerebral de palavras

O escorrer dos similares fatos na brisa das horas.
Os transeuntes bêbados, com os cabelos eriçados e acesos,
calcinando suas pegadas na terra mágica,
de onde brotam escadas,
esgotos,
ágata e
magma.

O lento fluir das plantas, com seus mantos de folhas,
alimentando-se de luz. Os caules estelares e sinuosos
subindo aos céus, e as sombrias raízes a migrarem cegas
rumo ao solo vertiginoso,
simbiose,
fotossíntese e
flores.

O ar viscoso sobre a pele, suplicando carícias,
feito um Zéfiro a choacoalhar ervas ao vento,
levando o cheiro do verde às ventas airosas,
onde entranha aspiras camuflada paisagem.
Balance a rede
na cordilheira,
e escute
o zinir dos grilos.

O ritmo da silábica seiva
ligando o motor verbal da faringe
no ventilador cerebral de palavras.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Correspondências ao acaso


Aturdido na cama me espantam, a calma das plantas e a certeza dos planetas,
que num raro orbe abismal sustente, a leveza das órbitas e a paz dos quintais.
Pasmo com a atmosfera, indago-me sobre a sintonia lógica da natureza:
Que magia matemática harmoniza as estrelas?
Que energias combinam-se a luz veloz e aflita, que transcende o espaço e eterniza a matéria?
Como que pudesse sentir na brisa inaudita, a música cósmica que obscurece-se nas horas.
Poderei supor a exaustão dos cometas ou a morbidez da seiva,
indagar sobre a sílaba, quem sabe, a eloquência dos pássaros, ou os silvos dos lábios.
Sei que permanecemos salvos pelo silêncio inalterável, mas abalados,
com o ruído estrondoso da alma, e as correntes possibilidades,
ilustradas como miragens, ou presságios, que habitam as cabanas vazias, e os mares calmos.
Os arcabouços antigos, e os baús com o cheiro velho da umidade do tempo, padecem,
bem como as gavetas, e as cavernas frias do passado, e o tempo permanece inquebrável,
como um fio insustentável e tênue, com a eufórica agitação de sempre!

Theodor bezellius